sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Fernando Pessoa







Teu canto justo que desdenha as sombras

Limpo de vida viúvo de pessoa

Teu corajoso ousar não ser ninguém

Tua navegação com bússola e sem astros

No mar indefinido

Teu exacto conhecimento impossessivo

Criaram teu poema arquitectura

E és semelhante a um deus de quatro rostos

E és semelhante a um deus de muitos nomes

Cariátide de ausência isento de destinos

Invocando a presença já perdida

E dizendo sobre a fuga dos caminhos

Que foste como as ervas não colhidas

Sophia de Mello Breyner Andresen - Livro Sexto - 1962

Homenagem a Fernando Pessoa - 72 anos após a sua última viagem


13.06.1888 / 30.11.1935


"Do fundo da inconsciência
Da alma sòbriamente louca
Tirei poesia e ciência,
E não pouca
Maravilha do inconsciente!
Em sonhos, sonhos criei.
E o mundo atônito sente
Como é belo o que lhe dei."
Fernando Pessoa - Primeiro Fausto/ O Horror de Conhecer

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Os Barcos


Dormem na praia os barcos pescadores
Imóveis mas abrindo
Os seus olhos de estátua
E a curva do seu bico
Rói a solidão.
Sophya de Mello Breyner Andressen -Coral 1950

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Penélope


Desfaço durante a noite o meu caminho,
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo.
Sophia de Mello Breyner Andresen - Coral 1950

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Teia...



A ARANHA do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte


(Fernando Pessoa - Inéditas 1919-1935)

sábado, 17 de novembro de 2007

Para além de mim


...e rebentada em luz
tornei-me irmã
dos deuses
e dos astros
E percorro descalça o infinito.

(Manuela Amaral in Em Nome de Nada - 1996)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Regressão

Superei
Em mim
O vício de viver.
Agora sou princípio,
Sou outra vez informe,
Um pensamento puro
Da mente universal!

(Manuela Amaral- in Hino Proibido - 1967)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Trovante - Timor

... e continua

Timor - Massacre de Sta Cruz - Há 16 anos

12 de Novembro 2007
12 de Novembro 1991


É preciso não esquecer...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Os que avançam de frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
A proa negra dos seus barcos
Vivem de pouco pão e de luar.

Sophia de Mello Breyner Andressen - Lusitânia/Mar Novo 1958
Adieu, dit le renard. Voici mon secret. Il est très simple : on ne voit bien qu'avec le cœur, l'essentiel est invisible pour les yeux.
Antoine de Saint Exupéry - Le Petit Prince


sábado, 10 de novembro de 2007

CHUVA


As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos de ouvir

São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder

Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai, meu choro de moça perdida
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
Há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

(Chuva - Jorge Fernando/ Cantado por Mariza)

Mariza - Chuva - Fado

Lindo! Tenho de agradecer, a uma amiga, que me deu a conhecer, no seu Blog, este magnífico vídeo. Não resisti a ir procurá-lo, ao You Tube, e trazê-lo aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Aniversário do Poeta

Sophia de Mello Breyner Andresen
06.11.1919/02.07.2004


Ausência

Num deserto sem água

Numa noite sem lua

Num país sem nome

Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero

Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Noite branca


Noite branca
de sonhos
e de sono
- O tempo escorrendo
na memória -
E de repente...
Tu

sábado, 3 de novembro de 2007



"Voir le monde comme je suis, non comme il est."
Citation de Paul Eluard

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Obstruído o caminho da transparência
só me resta reunir os fragmentos do sol nos espelhos
e com eles junto ao coração
atravessar indiferente a desordem matinal dos mastros.
Quanto mais envelheço mais pueril é a luz
mas essa vai comigo.
Eugénio de Andrade - Véspera da Água / 1973