segunda-feira, 28 de maio de 2012


Cristina,
hoje,dia do teu aniversário, venho trazer aqui o meu testemunho e a minha homenagem à pessoa maravilhosa que és.

Há quatro anos e meio que lutas, corajosamente, contra essa maldita doença oncológica, que não te tem dado tréguas,  num longo e doloroso processo.
Resistes com um sorriso, que encanta médicos e enfermeiras, às cirurgias, tratamentos, aos terríveis efeitos secundários da quimioterapia, à queda do cabelo(sem complexos, rejeitando lenços e perucas), à falta de forças que te faz andar no teu “mercedes descapotável”( cadeira de rodas), às limitações provocadas pelas neuropatias...

Resistes, sobretudo, ao sofrimento e às dores, recusando ficar acamada e tentando interessar-te por tudo o que te rodeia.
Preocupas-te com os irmãos, sobrinhos, amigos  e mãe Alice. És tu que apoias e te interessas tentando resolver os problemas de toda a gente. Tu! A que mais precisa de apoio!!!

Contigo aprendi a viver um dia de cada vez. Cada dia que acordas melhorzinha, é uma vitória. A nossa vitória!
És um exemplo para todos nós e para todos que sofrem este terrível pesadelo – o cancro.

Meu passarinho de asa ferida, aqui fica este pássaro de luz. Tu és um Pássaro de Luz para nós!!!
Vamos tentar que passes um dia bom

Beijinhos

Lisboa, 25 de Maio 2012

domingo, 6 de maio de 2012

DIA DA MÃE



EUGÉNIO DE ANDRADE, in OS AMANTES SEM DINHEIRO (1950), in POESIA.EUGÉNIO DE ANDRADE (Modo de Ler, 2011)


POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.